Argélia: «O nível de segurança das explorações petrolíferas está a melhorar gradualmente»
Argel A PNN falou com um dos maiores especialistas em segurança e estratégia industrial na Argélia, Lotfi Halfaoui, sobre as causas e consequências do ataque terrorista contra a exploração petrolífera de In Amenas, Argélia.
Um ano após o ataque terrorista contra a exploração petrolífera de In Amenas, leste da Argélia, muito tem sido dito sobre esse ataque, quer internamente, quer internacionalmente.
A PNN falou com Lotfi Halfaoui, um dos maiores especialistas em segurança e estratégia industrial na Argélia, sobre as causas e consequências deste ataque e também sobre as pressões e «chantagens» movidas por diversas companhias petrolíferas estrangeiras sobre o Governo argelino.
PNN: Há um ano, a exploração petrolífera de Tiguentourine (In Amenas, Algérie) conheceu um sangrento ataque terrorista com as consequências que todos já conhecem. Este ataque colocou a descoberto, segundo algumas opiniões, a vulnerabilidade dos sistemas de segurança destes locais. Afinal, podemos considerar as explorações petrolíferas na Argélia seguras ou não?
Lotfi Halfaoui (LH): Parece-me que o nível de segurança nestes locais, tanto no Norte como no Sul, estão agora a tomar medidas no sentido de evitarem e melhor resistirem a um novo ataque semelhante ao que aconteceu em In Amenas. Por exemplo, a Sonatrach e as restantes companhias colocaram em marcha novas exigências no sentido de elevar a segurança nas suas explorações petrolíferas e/ ou de gás.
Por outro lado a imprensa tem dado também eco ao facto de as instituições militares terem também aumentado o seu dispositivo nas zonas sensíveis e próximas destes locais, no sentido de melhor responderem em caso de ataque, mas também como forma de prevenção
e/ ou de dissuasão.
O Exército argelino é rico em elementos com muita experiência neste tipo de ameaças e, sobretudo, em lidar com a ameaça que advém dos mais perigosos e fanáticos terroristas do Mundo. Tudo o que podia ser feito para melhorar a situação de segurança foi feito. Agora continua o debate e a reflexão sobre como e de que forma se pode aumentar a matriz dos riscos extremos.
A segurança de locais nevrálgicos do ponto de vista energético é uma busca contínua, sempre em aperfeiçoamento e que está directamente ligado a um conjunto de competências transversais, nomeadamente a velha estratégia, a prospecção científica, tendo em conta que existem ferramentas cada vez mais sofisticadas e que devem ser utilizadas no combate a estas ameaças. A vigilância é, por isso, permanente.
PNN: Tendo em conta que nenhuma exploração petrolífera no sul do país tinha conhecido um incidente análogo ao de In Amenas, pode dizer-se que os sistemas de segurança neste local estão ultrapassados ou foram facilmente contornados pelos terroristas?
LH: De facto um cenário com esta capacidade terrorista não foi contemplado como plausível. Mas temos vários exemplos destes, como a central eléctrica de Fukushima (Japão), construída para resistir a um Tsunami e a vagas de oito metros, e que afinal as vagas de 12 metros acabaram por destruir os reactores com as consequências que todos conhecemos.
As construções anti-sísmicas respondem a uma escala de Richter. Se um sismo atinge uma zona com uma intensidade superior à média estudada e esperada, teremos perdas de vidas humanas e destruição de propriedade, certamente. Portanto, não é uma questão dos sistemas de segurança terem falhado, mas o nível de segurança é que foi insuficiente, por isso, são os níveis de segurança que no final jogam o papel mais importante.
PNN: Desde o ataque de Tiguentourine - In Amenas, muito foi dito sobre as qualificações dos agentes de segurança destes locais. Estão eles realmente treinados e aptos a responder a este tipo de ameaças?
LH: A tomada de reféns em In Amenas é inédita na história do terrorismo, nomeadamente sobre alvos visando a indústria petrolífera. Por outro lado, a segurança interna das nossas explorações não pode ser feita senão por agentes formados e aptos para utilizar armas ligeiras. Ora, este episódio mostrou que, em algumas explorações do Sul, se tornou necessário modificar o esquema de segurança através da montagem de barreiras e/ ou equipando-os com armamento pesado.
Que o perímetro seja seguro pelas forças militares não é importante, importante é que as novas exigências em matéria de segurança sejam colocadas em prática. Na Argélia a preferência vai para restringir esta competência às forças militares. Após o ataque de 16 de Janeiro de 2013, instalou-se um «bicefalismo» entre o responsável da segurança interna (Sonatrach e parceiros) e a segurança externa (Militares), dada a gravidade dos eventos.
Relativamente à formação o Ministério do Ensino e da Formação, não autorizaram a inclusão no seu catálogo do «programa de formação e segurança industrial», pelo que nenhuma formação legal ou reconhecida pode ser dada na Argélia, nesta área.
Infelizmente sofremos desta «aberração» e aguardamos, há alguns meses, a autorização para que finalmente possamos dar a nossa contribuição na formação de agentes na área da segurança industrial.
PNN: E as normas HSE são respeitadas?
LH: Sim são respeitadas, uma vez que a industria dos hidrocarbonetos é particularmente exigente em matéria de segurança.
PNN: Algumas companhias petrolíferas terão mesmo exercido alguma pressão ou chantagem sobre o Estado argelino para que pudessem regressar ao terreno de In Amenas. Foram exigências objectivas?
LH: Passo a citar dois exemplos, um na Arábia Saudita e outro na Nigéria. A Arábia Saudita foi vítima de um ataque terrorista em Março de 1998. Um atentado visou a refinaria de Joubail na província oriental, provocando avultados danos. Depois, em 2006, um novo ataque terrorista ao complexo industrial da Saudi Aramco. Creio que, no total, são 35.000 homens que asseguram estas infraestruturas vitais, incluindo a Guarda Nacional, que tem por missão principal, além da defesa das infraestruturas petrolíferas, toda a rede de oleodutos sauditas que ultrapassam os 5.000 quilómetros de extensão.
Na Nigéria, a companhia Shell opera On Shore (em terra), possui 2.300 guardas privados que representam 20% do total dos trabalhadores, que são mobilizados para a segurança de locais de produção, a que se juntam 1.400 agentes da polícia nigeriana.
Na indústria dos hidrocarbonetos estas exigências são normais e rotineiras. Agora, pertence à parte argelina encarregue do dossier de In Amenas dizer o que pode ou não aceitar no imediato em termos de segurança. Parece-me que a imprensa descobriu e revelou a construção de uma pista de aterragem para aeronaves e a televisão esteve envolvida numa acção massiva de recrutamento de jovens da região de In Amenas para formar e os incorporar nas instituições de segurança locais.
Os exemplos de outros países produtores de petróleo e gás têm-nos feito entender que as sociedades de segurança e guarda, e as companhias militares privadas não constituem certamente as únicas alternativas de segurança viáveis, uma vez que teremos que analisar a evolução e o funcionamento destas indústrias em locais de contexto muito frágil.
A defesa do território, da população e das infraestruturas vitais, bem como das fronteiras, não pode ser parte de uma estratégia múltipla. O objectivo subjacente é de adquirir meios tecnológicos e humanos a fim de proteger o território nacional de forma autónoma.
Forçosamente temos que admitir que as actividades das companhias petrolíferas têm um impacto que não pode ser negligenciado no panorama económico argelino, sobretudo tendo em conta que as exportações de gás a partir de Tiguentourine representam 20% do total de gás exportado. Concluindo, muito já foi feito mas muito há por fazer.
Lotfi Halfaoui, Perito industrial e director do Gabinete de Peritos industriais HALFAOUI.
(c) PNN Portuguese News Network
2014-01-22 13:35:41
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